O pássaro-cuco

Sobre o pássaro-cuco, fui dar uma pesquisada na wikipedia, e em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cuco, achei, entre outras informações:”A maioria das espécies do Velho Mundo são parasitas e põe seus ovos nos ninhos de outras aves.”

Fui buscar isto para relacionar com passagens da entrevista de Xico Sá no link http://www.gardenal.org/mauhumor/2008/01/jornalismo-embaranga.html (importante mesmo são os trechos em negrito):

Xico Sá – (…)Meu pai foi me registrar com 9, 10 anos de idade. Só quando foi me botar pra escola, aí errou tudo, hora, data….. Graças a Deus eu não posso fazer mapa astral (risos), me livrei da merda que alguém pode me dizer. Mas tá tudo errado, nego não ligava…. não tinha bolsa família. Agora tem que fazer o registro no dia seguinte ao nascimento, pra pegar esmola federal.

Arnaldo – O recenseamento nem chegava lá?

Xico Sá – Tinha mas não importava… meu pai mora nesse mesmo sítio até hoje, ele nem tem carteira de identidade. Fomos morar em Juazeiro, mas ele não se adaptou um segundo da vida lá. Foi com a gente pra que pudéssemos estudar, largou minha mãe sozinha… ele dizia: “eu vou pra um lugar que chega conta pra mim?”. Meu pai nunca pagou uma conta, velho.

Allan – Gênio!

Xico Sá – É, mas vai dizer pra minha mãe que meu pai é gênio…. minha mãe o acha um escroto filho da puta… são as razões dela, de mulher. Ele nos deixou em Juazeiro e eu tive que cuidar da porra toda quando completei 18 anos. Ela o acha um escroto, mas eu acho ele um gênio.

(…)

Marsílea – Quantos irmãos?

Xico Sá – Sete. São seis e mais um menina que minha mãe criou.

E em outro trecho:

Xico Sá – Não. Comecei a escrever essas porras de programa de rádio…. Lá nego quer andar também, que é a melhor coisa do mundo, sair do lugar em que nasceu. Aí fiquei lá em pensão, depois fui pra casa de estudante. Melhor quando eu fui estatizado, tudo bancado pelo governo federal, virei um “Xicobrás”. Era bandejão público, tinha bolsa na faculdade. Eu tinha uns 18 anos e era do caralho porque eu era um cidadão estatizado. A gente invadia a reitoria quando a comida piorava, era uma guerra fodida e do caralho, que nego hoje deixou isso muito barato. (…) Eu peguei, pelo menos, um Estado bancando meus peidos, meu pão com ovo de manhã, minha escola, minha existência. Só fui pra faculdade graças a essa porra, e era o mínimo que se cobrava na época. Hoje nêgo é cuzão, basta o cara roubar um galinha que já justifica ser morto. Uma escrotidão sem limite. Então graças ao Estado eu tive esse “Xicobrás” e foi do caralho. Pude estudar e beber cachaça com os caras interessantes. Porque a faculdade era uma merda, mas o encontro foi do caralho. Era Comunicação, mas eu também quis fazer Sociologia.

Quer dizer, o pai do cara não paga um imposto, bota seis filhos no mundo, e bota no conta do Estado (para o qual ele não contribui com um centavo). Tinha luz elétrica em casa? Não se fala nisso. Mas gatos existem aos milhões pelo Brasil, e claro, alguém paga a conta.

E o filho, claro, se acha no direito de invadir reitoria porque a comida não estava boa. Claro, tinha que estar bem alimentado, para agüentar “beber cachaça com os caras interessantes“.

A idéia que o Estado banca é uma ilusão, pois o Estado não produz dinheiro, só tira de quem paga imposto.

Desse jeito é muito fácil ter seis filhos. Ou seja, um pai desses está botando seus filhos nas contas de outras famílias, “criem meu ovos, vocês, otários”. É o pássaro-cuco feito gente. Quantos milhares, talvez milhões de casos assim existem pelo Brasil?

Ao menos a mãe era caridosa a ponto de cuidar de uma menina alheia, ponto pra ela, boa alma. Porque caridade se faz por vontade própria e com seu próprio recurso, não pode ser algo imposto nem ser feito com o recurso de terceiros.

E como o próprio entrevistado admitiu, durante sua infância “não tinha bolsa família. Agora tem que fazer o registro no dia seguinte ao nascimento, pra pegar esmola federal“.

Agora então, liberou geral. “Pobres, tenham filhos! As pessoas da classe média, que têm de pagar escola, transporte e plano de saúde para seus próprios filhos, vão também, compulsoriamente sustentar os filhos teus!” Tenha três, cinco. Não importa que você more numa cidadezinha sem nenhuma atividade econômica além da braçal ou numa favela violenta, mal localizada e que a sua casa mal comporte duas pessoas. Tenha filhos que “o Estado” banca. Mal e porcamente, claro.

One Response to “O pássaro-cuco”

  1. Elogio é bom, mas prefiro dinheiro « comoeueratrouxaaos18anos Says:

    […] O texto do cuco tem coisas interessantes. Não que eu concorde com tudo, mas levanta uma discussão. Está no link https://luizmaia.wordpress.com/2008/01/07/o-passaro-cuco […]

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